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OBRIGAÇÃO DE SER FELIZ

Atravessamos uma época em que, para além do ser, somos convocados a parecer. Precisamos continua e exaustivamente nos mostrar, compartilhar, aparecer. Na cultura do exibicionismo, velar algo chega a ser um ato transgressor, e como tal, passível de punição. É necessário expor nossos pensamentos e nossos corpos numa tentativa angustiante de ganhar alguma voz na sociedade atual.

Essa exigência de visibilidade cobra um alto preço. Ela decreta a obrigação de selecionarmos os sentimentos apropriados param que possam ser repartidos com o mundo. Precisamos filtrar repetidamente não apenas o que será aceito pelo outro, como também aquilo que tornará nossa imagem mais bem aceita. Sufocamos nossa subjetividade em detrimento do coletivo para tentar assim fugir do desamparo e do esquecimento.

Nesse sentido, a felicidade ganha destaque. No entanto, ela não é entendida como consequência ou como um processo, mas como um imperativo. Precisamos ser – ou ao menos nos mostrar – felizes a todo tempo. Podemos facilmente perceber isso através dos múltiplos dispositivos midiáticos que nos circundam. Vendemos, a cada foto, a ideia de uma existência plena e extremamente alegre.
Contudo, embora nos aplicativos sociais façamos uso dos mais diversos filtros para mostrar o que acreditamos que os demais julgarão como conveniente, na vida privada isso se torna impossível. Por trás das telas, proliferam exponencialmente os afetos relacionados ao não pertencimento, à incompletude, à insatisfação. Diante dessa meta inatingível de felicidade, estamos selando nosso compromisso com a frustração.

É preciso que respeitemos nossa história e nosso ritmo. Que abracemos nossos pensamentos e sentimentos sejam eles quais forem. Que resgatemos o desejo por uma experiência íntima satisfatória independente da padronização que se impõe. Apenas assim, conseguiremos nos voltar novamente, com afeto e respeito, para nós mesmos, acolhendo tudo aquilo que somos – e não apenas o que acreditamos que os outros gostariam que fôssemos.

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