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CULTO AO CORPO: RESTITUIÇÃO NARCÍSICA E A LÓGICA SACRIFICIAL

Na sociedade de consumo em que vivemos – cada vez mais – o corpo se torna um capital. É através dele que, diversas vezes, buscamos um reconhecimento que valide nossa identidade. Desse modo, estrategicamente, ele se torna um alvo de auto investimento. Acaba sendo entendido como uma representação de um sujeito bem-sucedido.

Na busca pela supressão das faltas, a imagem que possuímos de nós se torna protagonista e exige consigo práticas corporais intangíveis e infindáveis, além do investimento massivo e continuado na estética. Em nossa demanda por amor, buscando o reconhecimento social, o investimento corporal procura aplacar o desamparo fundamental que nos angústia.

O corpo passa assim a ter valor simbólico de mercadoria. Um objeto de consumo. Uma fonte de investimento – tentando tamponar a falta ontológica que experimentamos. Tendo em vista nossa experiência na cultura do desempenho e do espetáculo, a aparência se torna mais do que uma moeda de troca: personifica-se como promessa de felicidade.

Para tanto, devemo-nos submeter a uma lógica sacrifical, seguindo um verdadeiro protocolo corporal moral e métrico, através de muita disciplina e determinação, possibilitando assim a redenção de nossas falhas ao restituir nosso direito de exibimo-nos livremente em espaços públicos – inclusive em mídias sociais.

Além disso, em uma época tão imagética, onde a dimensão da linguagem se torna bastante empobrecida, emerge a teatralização no corpo de nossa dimensão conflitiva. Há uma representarão corpórea muito fragilizada, que implica incapacidade de perceber nossas bordas, nosso contorno. Não há, assim, uma representação coesa de si.

Nossa cultura segue dando primazia à imagem e não a linguagem, aumentando a formação de sintomas ligados ao autoerotismo e ao narcisismo primário – sintomas muito físicos. Diante disso, na tentativa de restauração da percepção de um self unificado, através do consumo da aparência que compactua com o discurso dominante, buscamos encontrar uma possível completude imaginada, numa espécie de restituição narcísica.

É necessário estar atento!

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